sábado, 21 de novembro de 1992

O MURO DA VERGONHA

Canções me falam de revolução.
Jornais em preto e branco
estampam todo o sangue
derramado por jovens de brio
durante a revolução estudantil.


Beatles, Stones, Dylan
Kerouack, Rimbaud, Leary e tantos outros
pregam novos costumes e posturas.


Festivais cantam velhos ideais:
liberdade, igualdade e fraternidade;
Falam em se acabar de vez
com as grandes diferenças do mundo.


Falam de liberdade,
paz de espírito e amor pela vida,
mas, a vida agradece, e se compadece
enquanto o mundo assiste a tudo
impassível, e por cima do muro
sem ter vontade de mudar...


Que mais pode o homem fazer,
para despertar o olhar crítico
que vem de dentro de toda hipocrisia
que ele mesmo ajudou a cultivar?

Que mais pode o homem fazer,
para combater sua própria incapacidade
de não querer enxergar um passo sequer
diante do seu próprio tempo?


As respostas parecem estar
esvairando-se pouco a pouco
com o passar dos tempos.


Porque, no fundo, no fundo,
nada mais somos do que
apenas mais um tijolo
revestindo o Muro da Vergonha
que, certamente, não é da Alemanha.


Ele existe em toda parte.